segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

AMANHÃ DE MANHÃ

Amanhã de manhã quando eu acordar, meu corpo não será tão ligeiro, tão formoso, tão firme.
Minha pele estará enrugada, minhas mãos trêmulas, meus movimentos vagarosos.
Amanhã de manhã quando eu acordar, minha voz não será tão macia, meus ouvidos não tão eficientes, e meus olhos escurecidos.
Meu cabelo estará ralo e esbranquiçado, meus pés cansados, minhas memórias confusas.
Amanhã de manhã quando eu acordar, meus dentes não serão tão fortes, meus ossos estarão mais fracos e minha respiração mais ofegante.
Voltarei a depender de cuidados, atenção e dedicação.
Amanhã serei novamente tão frágil como fui ontem.
Amanhã de manhã quando eu acordar, saberei o resultado de minhas escolhas, chorarei as perdas, celebrarei as conquistas. Muitos dos meus estarão como eu, outros já terão ido, outros não se lembrarão de mim.
Amanhã de manhã quando eu acordar, saberei o nome daquele para quem eu direi “sim”, saberia o nome dos nossos filhos, e dos filhos dos filhos dos filhos dos nossos filhos. Eles não estarão mais nos meus planos simplesmente, mas já terão meu nome, meu sangue, meu amor. Então eles sentarão para ouvir minhas histórias e saberão que fazem parte delas.
Amanhã de manhã quando eu acordar, a última moda não fará diferença, o carro do ano também não, e a conta bancária talvez já esteja encerrada. Meus pertences não me pertencerão mais, minha herança terá sido partilhada, e ainda estarei distribuindo as últimas coisas que estarão na gaveta.
Amanhã de manhã quando eu acordar, meus pais já terão partido há muito tempo, talvez até meus irmãos.
A saudade será insuportável mas a longa espera para vê-los novamente estará se findando.
Então darei uma boa risada.
Amanhã de manhã quando eu acordar, saberei se as quatro árvores que plantei no quintal terão crescido e florescido. Saberei como as futuras gerações terão lidado com o aquecimento global, a fome, a violência e o lixo, e saberei se a água ainda é um recurso natural disponível.
Amanhã de manhã quando eu acordar, vou descobrir o que aconteceu com meus sonhos, projetos, músicas e poemas.
Terei fotos dos lugares que visitei, das casas que morei e das flores que colhi.
Saberei quão longe foram minhas aventuras.
Muitas de minhas perguntas terão encontrado suas respostas, e muitas outras terão se perdido sem saber.
Amanhã de manhã quando eu acordar, não serei mais tão jovem.
Estarei nos tenros dias de minha velhice.
E minha vida terá sido tão rápida como o sussurro da noite que separa o hoje do amanhã.
Não haverá como voltar atrás nem como viver novamente. Pois o dia já terá amanhecido.
Amanhã de manhã quando eu acordar, poderei olhar pra trás e ver que aproveitei cada dia de minha vida e que faria tudo do mesmo jeito.
Meu coração se encherá de júbilo e meus lábios de gratidão.
Chorarei o fim de minha vida terrena, mas saberei que ela terá valido a pena. E terá sido um bom fruto dAquele penoso trabalho.
Então, depois de amanhã quando o dia amanhecer, levarão flores no meu túmulo e chorarão mais uma vez.
Porque eles ainda estarão aqui.
Eu, contudo, estarei naquele lugar onde todas as lágrimas serão enxugadas.

Adelita Consthancia Siqueira Junior  

3 comentários:

  1. Esse texto é um mixto de alegria e tristeza, é escrito com a alma!

    Confesso que deixei cair uma lágrima!

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  2. Bom o texto, embora não goste muito da forma que ele conduz o texto até certo ponto, até parece meu avô: "hoje eu tô mais velho do que ontem", prefiro a visão de Mario Sérgio Cortella: "Eu nasci não pronto e estou me fazendo dia após dia, isso significa que hoje eu sou a minha mais nova versão ampliada e atualizada".

    É bem certo que de acordo com a ciência, cada dia nos vamos morrendo e nossas funções físicas, mentais e etc. vão ficando comprometidas, mas não gosto de ver o avançar da idade como o declinar da vida e sim como o êxtase da experiência humana na vida terrena que nos prepara para a vida além. http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/61/artigo206420-1.asp

    Ah, quando eu morrer não quero ninguém chorando, afinal como dizia Sócrates, "Emmanoel não morre, eu sou a minha alma, ninguém pode matá-la.
    Muito embora as lágrimas façam parte da vida terrena e do processo de amadurecimento, que elas caiam e marque nossos rostos...

    Grande abraço minha querida irmã Cacau.

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  3. Eu vou ser feliz hojee,as vezes fico zangada por besteira,perco dia mas,chegaa,antes que chegue os cabelos brancos,quero viver,enfrentar meus medos :D ,bjjs Cal*.*

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